Dia do Pai, ida a Castro. E, claro está, aproveitámos mais um dia ameno para fazer uma das minhas caminhadas favoritas pelo vale do Laboreiro. Este percurso circular de 6km não apenas é relativamente acessível e quase sempre feito pelas margens do rio, como passa por três belas inverneiras actualmente com sortes bem distintas: uma abandonada (Bago de Cima), outra deserta durante o Inverno (Bago de Baixo) e, por fim, uma quase inteiramente restaurada que é a estrela do alojamento local do município (Pontes). Há ainda uma quarta inverneira que fica a apenas umas centenas de metros do início do trilho (Assureira), mas prefiro falar nela, na sua ponte, moinho e capela de forma mais detalhada num próximo post.
Escolhemos este nome para batizar o trilho, porque o percurso é delimitado a Norte e a Sul por duas pontes: uma com dois mil anos e outra com apenas alguns meses de existência.
A primeira é o genuíno ex-líbris de Castro Laboreiro: a Ponte da Cava da Velha (também conhecida, por corruptela, por Ponte da Cavada Velha ou ainda por Ponte Nova devido ao facto de haver uma ainda mais antiga nas redondezas, a já mencionada Ponte da Assureira). Este monumento nacional é uma construção romana datada do séc. I da nossa era com dois arcos de volta perfeita de tamanhos muitos desiguais, sendo porventura este o seu traço mais distintivo. O pavimento é constituído por fabulosas lajes de grande dimensão e guardas de cantaria cuja beleza é apenas superada pelo engenhoso mosaico formado pelo contraforte e pelas aduelas. É, sem dúvida, um digníssimo cartão de visita dos inúmeros encantos desta terra.
A segunda é bem mais prosaica: uma ponte de ferro pedonal edificada no Verão passado num dos melhores locais para dar um mergulho no rio Laboreiro: o Poço do Contador. Esta passagem, que era uma promessa autárquica de longa data, permite aceder de forma muito expedita à aldeia de Pontes e prosseguir a montante do rio sem ter que subir quase até à fronteira com a Galiza para atravessar o rio na Ponte de Mareco.
Mas é quando se caminha a jusante que se consegue aceder à mais escondida das inverneiras castrejas: Bago de Cima. Esta aldeia é absolutamente invisível a partir de qualquer ponto da Rua da Ameijoeira ou da EM1160, que são as duas estradas que cotejam o rio a nascente e a poente, respectivamente. E mesmo neste nosso trilho é apenas a duas centenas de metros, no fim de uma íngreme subida, que Bago de Cima surge de forma inesperada devido à sua peculiar localização numa pequena depressão entre grandes penedos e densa vegetação. Sempre que por lá passo, detenho-me um pouco a imaginar como teria sido viver ali durante o Inverno e quem terão sido os seus derradeiros habitantes. Um dos meus locais favoritos da Peneda-Gerês.
Na descida para o Poço do Contador, passa-se ainda por Bago de Baixo. Actualmente desabitada, esta aldeia tem algum movimento no Verão e há pelo menos duas casas que parecem ter sido restauradas há pouco tempo. Confesso que foi apenas neste derradeiro passeio que me aventurei pelas suas ruelas, o que me permitiu descobrir que ela é bem mais intricada e interessante do que as minhas primeiras impressões me tinham deixado.
Depois de atravessar a Ponte do Contador, sobe-se até ao impressionante Aqueduto de Pontes, edificado em 1940 a mando do padre Manuel Joaquim Rodrigues. Esse aqueduto de rega com 60 metros de comprimento sobre 24 pilares de granito foi utilizado ao longo de meio século e mantém-se, como o seu cruzeiro, num impecável estado de conservação.
Antes de regressar em direcção ao início do trilho, um pequeno desvio a Sul leva-nos ainda à famosa aldeia de Pontes, a mais polida de todas as inverneiras da região, graças a um antigo habitante que, nos últimos anos, restaurou (com assinalável bom-gosto e sensibilidade) oito das suas casas, estando actualmente sete disponíveis para turismo regional. É óbvio que o ideal seria assistir ao mesmo tipo de investimento para cativar o repovoamento da região, para mais tendo em conta todas as possibilidades recentes do teletrabalho. Até lá, pode ser que este tipo de turismo consiga não apenas revigorar o património, a agricultura tradicional, a criação de vacas raça cachena e a apicultura como seduzir um número crescente de plicas (“forasteiros” no dialecto castrejo) a tornarem-se os novos filhos da terra.
NOTA: a foto que encabeça esta entrada mostra o mais recente membro da família, o Centeio, que se portou lindamente nesta sua primeira caminhada pela Peneda-Gerês.
Subida até Bago de Cima:









Bago de Cima:















Bago de Baixo:









Descida até ao Poço do Contador e ao Aqueduto de Pontes:















Aldeia de Pontes:









Regresso à Ponte da Cava da Velha:









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