A Primavera tem sido auspiciosa. Depois da Casa do Frade, conseguimos esta semana conquistar mais um trilho que estava na calha há pelo menos um ano e que corresponde à segunda etapa da Grande Rota da Peneda-Gerês (GR50). A primeira etapa (Ameijoeira – Castro Laboreiro) conhecemos nós já de ginjeira, pelo que só nos faltará agora conquistar as 17 restantes. Está visto que fazer a totalidade dos 190km da GR50 é um dos grande objectivos do plano quinquenal desta família.
Fica aqui uma suspeita: a de que será difícil, muito difícil, haver uma etapa mais bela na GR50 do que esta que liga Castro Laboreiro a Lamas de Mouro. O percurso começa praticamente nas traseiras do Hotel Castrum Villae, onde um caminho de terra rapidamente nos conduz a uma chã desprovida de árvores e com uma ampla visibilidade. É aí que se chega à bela e pequena Ponte da Veiga que, apesar de ter características românicas, terá sido construída no séc. XVI (a sua primeira menção por escrito data de 1758). Há uma superstição que lhe está ligada: a de se batizarem as crianças ainda no ventre das mães sob o seu arco de volta perfeita para não morrerem ao nascer. Convém não esquecer que, em Portugal, na primeira metade do séc. XX, se estima que mais do que uma em cada cem crianças morria até completar um ano de vida, o que explica a proliferação deste tipo de crendices, sobretudo em zonas pobres e isoladas com as da serra.
Depois de flectirmos para poente na Fraga da Franqueira, sobe-se até chegar a um magnífico bosque com carvalhos, pinheiros-silvestres e vidoeiros, que deve ser um importante local de abrigo para várias espécies do ecossistema. É um local mágico, apetece ficar lá horas. Tudo fervilha de tal forma de vida vegetal e animal que pensei logo em gravar um dia todos os ruídos ambientais que adensam o seu silêncio.
Um pouco mais a Norte, atinge-se uma zona húmida (denominada complexo higroturfoso) e apercebemo-nos pela primeira vez que a marcação das distâncias nos marcos ignora cerca de 1km (a etapa tem 7km e não 6km). Nada de grave, pois a partir daí o percurso é sempre a descer por afloramentos rochosos até Lamas de Mouro, passando por uma bela escultura em homenagem ao mais distinto habitante das paragens: o lobo ibérico. Quando chegámos à Porta de Lamas de Mouro, tínhamos uma dezena de cavalos garranos para nos receber no famoso bosque de floresta mista.
Já vos tinha dito que o trilho é absolutamente magnífico? A não perder.



































