Neve!

Pela primeira vez, vimos a neve em Castro. A nossa vizinha Duartina ligou-nos no Sábado pelas 7h da manhã para nos dizer que tinha 12cm de neve no pátio. Quando chegámos depois do almoço, muita já tinha derretido, mas ainda assim deu para vê-la em todo o seu esplendor e tocar nela em dois pontos do planalto: Rodeiro e Portos.

Nasci na neve e com a neve brinquei todos os anos durante a minha infância até vir para Portugal. Cheguei a apontar no caderno de registo meteorológico da turma um dia em que fazia -21ºC. Nunca deixamos de ir para o recreio por estar a nevar, apesar de os professores inspeccionarem o estado das nossas mãos antes de entrarmos na sala para verificar se tínhamos alguma queimadura do frio. Pratiquei esqui de fundo na escola e lembro-me de espalhar sal à porta de casa para derreter o verglas. Depois, no regresso a Portugal, a minha infância mudou radicalmente: em vez do Inverno, o Verão; no lugar da neve, a praia – e o mar. Foi uma mudança pacífica, à qual aderi sem o mínimo esforço, ao ponto de ao longo dos anos me ter muitas vezes perguntado se era mesmo eu aquela criança que ficava eufórica quando, no horizonte, o Mont Blanc fazia jus ao seu nome, anunciando a vinda dos primeiros nevões.

Foi uma estreia para o nosso filho e para a canzoada. O pequeno já tinha estado na neve duas vezes, mas não se lembrava. Fartou-se de brincar com o seu amigo Pedro, os dois em êxtase. Para o Centeio e o Gerês, uma estreia absoluta. Foi muito giro ver a reacção do último: primeiro, a medo, uma pata a testar a consistência e a temperatura daquela matéria estranha; e depois, com infinda alegria, como se a memória dos seus antepassados tivesse aos poucos despertado o seu instinto. O Centeio, como adora a água em qualquer estado, aderiu de imediato e com entusiasmo à experiência.

A paisagem estava magnífica, quase toda coberta de um manto de luz. O gotejar constante dos telhados, o crepitar dos passos. O riso dos pequenos, a euforia dos cães.

A neve.

Tinha saudades e não sabia.

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