Não sei que idade tinha quando fui pela primeira vez a Castro Laboreiro, mas, desde então, essa terra não tem parado de me dar boas memórias.
Lembro-me de ter na ficado na Casa da Dorna, numa altura em que era toda de madeira escura e em que a estrada que a ela leva parecia ainda mais inclinada e difícil de conquistar.
Eramos muitos, entre os amigos dos meus pais que descobriram esta maravilha na Terra, seus filhos e netos, mais uns amigos deles e a neta. Os meus tios também por lá andavam, acampados nas traseiras da casa. Foi mesmo divertido assustar a Leonor com um insecto falso muito bem colocado na sua almofada.
Quando se é pequeno tudo tem outra dimensão e os dias, que eram muito mais longos, passavam-se a fazer caminhadas intermináveis (compreendo bem o meu filho), a nadar durante horas na poça da Ponte Nova, em demorados piqueniques e a trepar pedregulhos gigantes.
Fui lá no Verão e no Inverno; li um volume das “Viagens no Tempo” a ouvir a chuva cair; fui ao Numão; vi cordeiros acabados de nascer; cantei em inglês, mesmo sem conhecer a língua; senti fascínio e medo dos cães de Castro Laboreiro; habituei-me a cumprimentar todas as pessoas com quem me cruzava, quer as conhecesse quer não; fui às festas do Rodeiro; identifiquei rochas semelhantes a animais; ouvi histórias com pronúncia difícil de entender; fui feliz.
Por causa destas visitas, durante anos, preferi o campo à praia. Era fácil deixar os meus pais regressarem a casa e permanecer entregue aos cuidados dos seus amigos. Quando era a minha vez de voltar à cidade, ficava triste e confusa com todo o ruído (já disse que gosto do silêncio da montanha).
Castro Laboreiro é tudo isto e o meu pai. Subimos ao castelo, ele a vencer as vertigens e eu a desafiar os precipícios; mergulhámos em águas geladas (tanto lhe custava); ouvimos histórias; calcámos ruas cheias de bosta; tivemos medo das alturas; rimos e pregámos partidas; procurámos bichos e caminhámos de braço dado.
Tem sido mesmo bom voltar a pisar este sítio mágico, agora com o meu núcleo familiar e outros amigos. As novas memórias continuam a construir-se de alegria e risos e serão muito bem guardadas e estimadas.
