Esta é a primeira entrada que escrevo depois de termos finalmente, e após 22 árduos meses, assinado a escritura que nos consagra como legítimos proprietários da mais bela casa do vale do Laboreiro. Para celebrar o feito, conseguimos no dia seguinte (com a ajuda de uma super-simpática família de Terras de Bouro) resolver um grande problema ou, melhor dizendo, um enxame deles.
Há cerca de dois meses, apercebemos-nos que estava a nascer entre a portada e a janela do nosso futuro quarto virado para nascente uma colmeia de abelhas. Foi tudo muito rápido: se, duas semanas antes, a portada e a janela não tinham qualquer vestígio destas distintas voadoras, duas semanas após a descoberta, a colmeia já tinha duplicado de tamanho e a colónia teria já mais de uma centena de abelhas.
Um dos inúmeros encantos do Laboreiro é precisamente a quantidade de abelhas que povoam o vale: apesar de estarem em todo o lado, sobretudo na primavera e no verão, a sua presença jamais incomoda até porque estão sempre muito ocupadas a colher o pólen das urzes e dos tojos. São uma espécie de barómetro do equilíbrio em que persevera o ecossistema do PNPG. Como são visíveis diversas colmeias pré-fabricadas em praticamente toda a extensão da serra, encetámos de imediato uma série contactos com apicultores da zona e, para grande espanto nosso, todos nos aconselharam a destruir a colmeia sob o pretexto de ela já estar grande de mais para a sua transladação ser viável.
Entramos em depressão.
Durante semanas, fomos adiando ao máximo a recomendada operação de extermínio até que, há duas semanas, a Manela (sempre ela) descobre um anúncio no OLX de um jovem apicultor que se oferece para remover colmeias na zona de Braga. Entrei logo em contacto com o João (mais um!) que, muito simpático, me passou à mãe, a Maria José. Ao fim de alguns minutos, percebi logo que nos tinha saído a sorte grande: uma família de apicultores cuja paixão pelas abelhas é uma tradição familiar que se perpetua ao longo de inúmeras gerações.
Depois de pormos de parte o Plano A (eles ficarem com a colmeia, pois as abelhas não aguentariam a viagem até Terras de Bouro), rapidamente engendrámos um plano B: eles vender-nos-iam uma caixa e ficaríamos nós com a colmeia. A nossa tímida hesitação desapareceu por completo quando o João e a Maria José nos ofereceram os seus serviços de consultoria para a nossa futura ocupação em part-time.
O grande dia chegou no Sábado passado. No final da tarde, após uma viagem de uma hora, a família da Maria José e do João chegou para nos salvar. Devidamente equipados e ao longo de várias horas (que meteu pelo meio uma ida-relâmpago a um restaurante na vila para jantar), os nossos apicultores conseguiram não apenas transladar a colmeia com sucesso para o interior da caixa, como colher o mais doce mel que alguma vez provei na minha vida. Foi uma experiência emocionante, com momentos de suspense, drama e muita emoção, sobretudo para os mais pequenos (João, Laura e Alice) e para a Margarida, que, para além de ser nossa amiga e mãe das pequenas, se revelou uma genuína aficionada do universo das abelhas.
Vamos ver se estaremos à altura de tão grande responsabilidade. Já compramos fatos e um conjunto de parafernália sobre a qual hei-de falar proximamente. No momento em que escrevo, já não vejo as abelhas há quase uma semana e, confesso, estou com algumas saudades.
Maria José e João: mais uma vez, o nosso sincero obrigado.







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