Obras (IV-VI)

Capítulo IV

No Qual Se Celebra A Chegada do Carpinteiro Miguel & Do Seu Trabalho Exemplar

De todas as pessoas que contratámos para nos ajudar no restauro da casa, o que mais se destacou foi sem dúvida o Miguel, o bendito e meticuloso carpinteiro de Monção que não apenas cumpriu os prazos na entrega e instalação das belas peças que concebeu como foi ainda incansável em dar-me uma mão nos diversos biscates em que me vi envolvido, fosse através das dicas e conselhos que me foi dando ou da ferramenta que me foi emprestando. A sua empreitada incluiu um guarda-fato feito à medida para uma zona desaproveitada da biblioteca, portas para os nichos laterais da lareira, dois armários para tapar os quadros elétricos existentes em ambos os pisos da casa e ainda uma série de tábuas para rematar a parte lateral do chão das duas varandas. Um bacano boa-onda e cheio de talento.

Capítulo V

No Qual Se Aprende Que O Tempo Está Nos Detalhes & Se Procura Tirar Proveito Dos Últimos Dias do Sol Antes do Dilúvio

A primeira semana de Outubro foi pródiga em pequenos trabalhos que pareciam inofensivos mas que acabaram por se revelar fastidiosos: a colocação das caleiras (que, em Castro, é um substantivo masculino – caleiros) e respectivo desvio para o nosso depósito de 1000 litros, a feitura de uma pequena mesa de apoio para o sofá da sala, o remate da banca da cozinha junto à parede, prateleiras nos nichos e ainda diversos pormenores decorativos fornecidos quase integralmente pela colecção privada da avó Manuela Freitas Costa, a minha mui diligente sogra. Essa semana marcava igualmente o fim do verão e o início da mui desejada época das chuvas após os três anos de seca que se abateram na região (e no país).

Capítulo VI

No Qual Se Iniciam Os Trabalhos No Piso Inferior Da Casa & Se Inclui Uma Bela Fotografia do Jorge (Não da Autoria De, Mas Onde O Mesmo Surge Retratado de Perfil)

Para a Câmara Municipal de Melgaço, o piso inferior da casa não conta para fins habitacionais devido ao seu reduzido pé-direito, para nós, no entanto, a coisa pia de forma bem diferente. Se a metade do piso de baixo virada para Sul estava destinada em ser uma loja onde guardamos a lenha e as alfaias, o antigo proprietário tinha ideias bem diferentes para a outra metade. Para além de uma bela escadaria de madeira unir os dois pisos, essa metade do piso do baixo tinha lá instalada uma casa-de-banho, uma despensa e uma espécie de sala de estar com um velho sofá. Os nossos planos passavam por recuperar a casa-de-banho (que achámos linda de morrer) e converter as duas outras divisões no quarto e modestíssimo walk-in closet para a minha sogra e eventuais convidados (não ao mesmo tempo, calma). O resto do mês de Outubro foi todo dedicado à série de tarefas que encetaram essa remodelação: rebocar os tectos com argamassa branca, envernizar as paredes de granito, encher as juntas da tijoleira, envernizar a gigantesca arca de centeio (convertida num baú para a roupa das camas) e ainda transformar uma masseira num lavatório para a casa de banho. O Jorge foi uma valiosíssima ajuda durante esta fase do restauro. Bem haja, Senhor Arquitecto!

1 Comment

  1. Saber que encontraram e estarem a construir o vosso lugar no Mundo é para mim uma grande alegria e um privilégio poder acompanhar porque vos garanto que o meu perfil esquerdo (“ilustrado”) é muito parecido com o direito

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