O meu fim-de-semana atrapalhado

A tarde começou bem: ainda havia neve suficiente no planalto para o filhote ficar contente. Como o frio não convidava a caminhadas, por que não seguir planalto fora no conforto da nossa maravilhosa Kangoo? São apenas 16 km até ao Rodeiro e o JP, que já fez o percurso a correr, estava desejoso de nos mostrar as mamoas e outros encantos que por ali existem.

Os sinais de alerta logo se fizeram notar: uma subida cheia de pedras e o carro a tremer, uma poça gigante para contornar, regos esculpidos pelas chuvas das últimas semanas, um buraco aqui, um buracão acolá. Mas o veículo permanecia imparável, um orgulho!

Fomos avançando devagar, com o miúdo a sonhar com máquinas do tempo (adora a trilogia Regresso ao Futuro). Completados 5 km e já depois de passarmos a nascente do Rio Laboreiro, os alertas subiram de tom: os trilhos ficaram com uma configuração estranha e as rodas quase não chegavam ao chão, ficando a base central do carro a raspar em ervas. A tensão do condutor começou a aumentar e a confiança absoluta no veículo terminou quando um profundo sulco no terreno nos parou. Estava na hora de desistirmos e voltar para trás. Foi altura de testar a marcha-atrás, já que a vegetação e pedras impossibilitaram, durante alguns metros, qualquer tentativa de inversão de marcha.

Já com o veículo a andar para a frente, o JP começou a relaxar; afinal de contas, se já tínhamos feito o percurso, nada podia correr mal no regresso. A Kangoo seguia mais veloz e, para deleite do Joãozinho, as pedras do caminho faziam-me saltar no banco da frente, como se estivesse em cima de um cavalo.

A apenas 2 km da estrada de alcatrão, deparámo-nos com uma zona de lama, que, apesar de já ter sido transposta sem problema, desta vez resolveu atrapalhar esta nossa investida. Com os pneus a rodar, o carro não saía do lugar. Ainda tentámos colocar pedras no trajeto, mas a cada tentativa de avanço, cada vez mais nos afundávamos.

Não havia alternativa senão pedir ajuda à nossa grande amiga Duartina; “o Hipólito vai de trator ter com vocês!”. Foi com estas palavras mágicas que o JP se lançou a correr no encalço da ajuda. O pequeno e eu ficámos muito confortáveis no carro, já que, apesar de a temperatura ter descido para -2ºC, o Sol ainda aquecia qualquer coisita. Foi tempo de ler o manual de instruções e ir preparando a argola que nos faria ligar ao trator.

“Parece que estou no The Straight Story”, disse-me o JP pelo telemóvel, quando começou a avistar o Sr. Hipólito. Para os mais distraídos, trata-se de um belíssimo filme do David Lynch que descreve a lenta jornada de 390 km de um homem em cima de um trator. Devagar ou não, o certo é que a aventura se aproximava do seu desfecho e, foi com grande alegria, que recebemos os nossos salvadores. Incrível a força do trator que conseguiu puxar uma Kangoo ainda a patinar por alguns metros.

Finalmente livres, foi hora de nos despedirmos do nosso anjo-da-guarda-portista (um pormenor importante) e seguir viagem até casa da Duartina, onde leite quente com chocolate, sandes de queijo e muitas histórias em frente à lareira nos fizeram relaxar.

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