Ferrugens

Nos últimos 3 anos, o Joãozinho foi descobrindo e colecionando ferragens diversas na casa da Entalada. O que para mim (e para o comum dos mortais) seria apenas lixo, para ele foi sempre fonte de um enorme fascínio e mistério. Semana sim, semana não, lá nos aparecia ele muito orgulhoso com mais uma ferragem emocionante: um rebite, uma dobradiça, uma ferradura, um prego, uma chave ou o vestígio de uma fechadura. Tudo quase sempre oriundo dos intervalos que existem entre as inúmeras pedras de granito que delimitam o pátio da frente e tudo sempre, mas sempre, com aquela cor linda e matizada do ferro severamente oxidado.

Quando há cerca de um mês, o desaparecimento de uma destas ferragens o entristeceu profundamente, percebi que tinha de arranjar uma forma de preservar estes vestígios descobertos pelo nosso arqueólogo-antropólogo amador. Com a ajuda da mãe, lá engendrámos um pequeno mostrador que agora enfeita uma das paredes da sala. Quem para lá olhar verá não apenas parte da história de uma casa com mais de 150 anos, como uma das facetas mais desconcertantes de um dos seus proprietários: o seu encanto por aquilo que os outros desprezam ou ignoram.

1 Comment

Deixe um comentário