Nem todos os fins-de-semana conseguimos fugir para aqui: compromissos familiares, festas de aniversário de colegas do pequeno, tarefas no jardim ou na horta. E nem todos os fins-de-semana nos apetece genuinamente ir: há a inércia, o tempo pouco convidativo que multiplica as horas de viagem, a sensação de que, por vezes, ir ser mais um dever imperativo do que um genuíno prazer.
No Sábado, foi um pouco assim. Por um lado, previsões de frio e chuva; por outro, a necessidade de preparar as colmeias para o inverno, de transplantar três romãzeiras, limpar o jardim da frente e cegar a relva das traseiras. E assim nos fizemos à estrada, ensonados, meio-zombies, sem nenhuma significativa sensação de entusiasmo ou expectativa.
No limite, pelo menos para mim, as coisas começam a mudar a meio do caminho, quando entrámos na EN203. É uma estrada tramada, cheia de curvas e contracurvas, que nos leva de Vila Nova de Muía à fronteira no Lindoso: 25km para meia-hora de viagem e ziguezagues pródigos em provocar enjoos aos mais precavidos. Se o que há mais no Gerês é paisagem, é aqui no entanto que se começa a adivinhar a que, agora sim, por esta altura já todos ansiamos.
Desde logo, o Rio Lima: estamos sempre a tirar o pulso ao seu caudal. Conheci estas terras no terceiro ano de uma seca severa que fez emergir do leito do rio aldeias fantasmas e infraestruturas humanas paradas no tempo, como nos museus. É a água mais valiosa do meu pequeno mundo e banhar-me nas águas geladas dos seus afluentes um dos seus absolutos prazeres. De Entre Ambos-os-Rios até Cidadelhe, são sobretudo os castanheiros e os carvalhos que têm o condão de me animar o espírito. Por vezes, surgem também aqui os primeiros garranos, guardiões impassíveis destas paragens que caucionam a nossa irremediável condição de intrusos. É por fim na Parada que vislumbro, de forma inequívoca, na encosta galega da albufeira, a paisagem rude e desolada que é também a castreja: sorrio sempre que a vejo, ainda não cheguei ao destino mas é como se já lá estivesse.


Já disse isto à Manela várias vezes: a casa da Entalada está sempre impecável quando se lá chega. Eu sei que, nos últimos 3 anos, nunca estivemos mais de duas ou três semanas sem lá ir. Mas, ainda assim. Sempre que se chega, tudo impecável. A casa, o pátio, o jardim. O tempo aqui passa mais devagar. Ou então são as coisas que aqui têm tanto tempo armazenado dentro de si que o tempo que lhes passa por fora tem de passar muito para nelas se fazer sentir. Em Canidelo, por exemplo, onde estou a escrever isto, o tempo é tão rápido que até mete medo. E falo tanto na construção urbana desenfreada que diariamente vai aniquilando a paisagem rural como nos estragos que uma simples noite de chuva ou de vento provoca no quintal.
Às tantas é isto: Castro dá-nos a ilusão de brincar com o tempo. Quando caminhamos, como fizemos mais uma vez este fim-de-semana, diria mesmo que o tempo é um baloiço, como se o fuso horário com a Galiza não fosse delimitado por uma sucessão de segmentos de recta mas por uma espiral que atravessamos num vai-vem constante nos nossos passeios: a cada secante, o tempo ora avança, ora recua.
É apenas uma ilusão, eu sei.
Mas o tempo não está para grandes realidades.






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