Pitões das Júnias

Janeiro ofereceu-nos uns belos fins-de-semana de sol (e escrevo isto no início de um Fevereiro chuvoso). Num deles, aproveitámos para ir a Pitões das Júnias sob o pretexto da recente inauguração do Centro Interpretativo do Lobo Ibérico (CILI). Foi uma viagem magnífica pelo lado mais à nascente da Peneda-Gerês (PNPG) que me permitiu finalmente ficar com uma noção topológica abrangente do parque. Sou péssimo em orientar-me seja onde for e até com o GPS do relógio me vejo por vezes grego para guiar-me a mim e à minha família pelos montes.

O que vou dizer e mostrar de seguida faz de mim um mentecapto (eu sei), mas percebi que uma forma eficaz para me orientar geograficamente no PNPG é imaginá-lo como um círculo:

Com um pouco mais de boa-vontade, pode-se também imaginar que o PNPG (mais a parte galega) formam o mostrador de um relógio analógico dividido em 12 partes. Por exemplo, a Serra do Gerês fica (aproximadamente, claro) entre as 3 e as 6h; o Soajo às 9h; a albufeira do Lindoso no centro do mostrador, etc.. Para alguém como eu, esta mnemotécnica é, repito, muito útil e permitiu-me, por exemplo, perceber por que raio Pitões das Júnias me fez tanto lembrar a orografia de Castro Laboreiro: é porque ficam, de facto, perto uma da outra (3h e 12h, respectivamente).

A aldeia é absolutamente encantadora e povoada por gente muito calorosa e simpática (contraste flagrante com a natureza mais reservada dos castrejos). O CILI está muito conseguido, com uma vertente pedagógica que nos fascinou e ficamos ainda com mais vontade de um dia avistar uma das raras espécies do Gerês com as quais ainda não nos cruzamos. Almoçamos uma sopa divinal com uma vista magnífica na Taberna do Caskais e, como não podia deixar de ser, fomos visitar as famosas ruínas do belíssimo Convento de Santa Maria das Júnias.

Seguimos depois para Castro pela parte galega e fiquei sinceramente sem palavras com a paisagem, sobretudo com a passagem pela ponte estreitíssima que atravessa a Albufeira das Conchas.

Termino com umas breves considerações sobre a origem do nome do povoado. Antes de investigar um pouco o assunto, presumi uma possível etimologia (grego pythón) com dois significados derivados: serpente e mago (este último de cariz vernacular). Mas parece que, afinal, o étimo será pré-latino e mais concretamente celta (pitt) que significa pontiagudo ou aguçado (é também daí que provém o galicismo “pitons de uma chuteira”). Ou seja: a primeira parte do topónimo é uma referência à orografia do local. A segunda parte também é traiçoeira: não tem nada a ver com o nome próprio latino Junias, mas será antes uma corruptela de, imagine-se, “unhas”, facto comprovado pelo facto de o mosteiro se ter chamado inicialmente de Mosteiro da Senhora das Unhas.

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