Outonal

À data em que escrevo isto, já se está em pleno outono em Castro Laboreiro. Tanto o outono como a primavera são estações breves na serra e o que perdura é o inverno e o verão. Lembro-me de ter lido algo similar em Léxico Familiar de Natalia Ginzburg, na divertidíssima narrativa que abre o livro sobre as férias que passava na juventude com a família nos Alpes: na montanha só há duas estações, o verão e o inverno.

As primeiras chuvas caíram finalmente e já temos a terra da horta estrumada com folhas de carvalho para receber em breve as primeiras sementeiras (nabiças e couve galega). A segunda cresta também já foi feita (mais detalhes em breve) e o verão, quente e seco, ficou definitivamente para trás. Para ser sincero, digo isto com algum alívio.

Se há algo que marcou o verão de 2025 no Parque Natural foram os incêndios. Felizmente, as serras da Peneda e do Laboreiro foram poupadas e penso que tal se deverá, por um lado, ao extenso trabalho de limpeza do mato levada a cabo pela autarquia de Melgaço em Abril e Maio e, por outro, às características da sua peculiar flora. Creio que mais de metade da belíssima Serra Amarela (onde há mais eucalipto e mato desregrado) terá ardido este ano: do Lindoso a Ponte da Barca, a paisagem é desoladora, tudo negro e cinzento. Ao longo de semanas a EN203 foi um vaivém de camiões de bombeiros, patrulhas de GNR, e bichos a fugir dos fogos. Na parte mais bela das nossas viagens semanais, não raras vezes o ar e o céu se confundiam num mar de cinzas e poeiras.

O outono é assim um bálsamo ainda antes de começar no calendário. Em breve, a praga das vespas asiáticas também nos dará tréguas e os ribeiros voltarão a cantar a fúria dos caudais. Será também o momento ideal para fazer caminhadas e, ao serão, por alguma necessidade e muito capricho, acender a lareira. É a minha estação favorita do ano.

NOTA: na foto que encabeça esta entrada pode se ver parte das inverneiras de Assureira, Podre e Barreiro.

Deixe um comentário