Para quem, como eu, nunca ligou muito ao céu nocturno, a estadia da Clara, da Benilde e do Alcino num dos últimos fins-de-semana de 2023 foi uma absoluta revelação. O Alcino já me tinha falado há meses da sua paixão em tirar fotografias ao céu nocturno. Claro que dito assim, parece coisa pouca, mas a astrofotografia envolve não apenas equipamento sofisticado como horas de dedicação, muita paciência e nervos de aço para conseguir desvendar a luz esquiva dos corpos celestes.
Há algumas semanas, o Alcino fala-me especificamente do seu plano de acampar com a família em Lamas de Mouro e assim aproveitar o céu limpo e a lua nova da noite de 16 de Dezembro para fotografar as Plêiades, também conhecidas por Nebulosa Maia, Sete-Cabrinhas ou M45 (do famoso catálogo astronómico do séc. XVIII de Charles Messier). Como é óbvio, invoquei de imediato argumentos de peso para os desviar para a Entalada: a noite prometia ser gélida, os pequenos poderiam brincar, os adultos conviver e os anfitriões saciar a curiosidade (na altura não sabia, mas outro argumento de monta poderia ter sido a imperiosa necessidade de degustarmos os saborosos petiscos que a Benilde confeccionou para o fim-de-semana).





Mal o dia se pôs, acompanhámo-los a um local ermo a menos de 1km da nossa casa onde foi montado um laborioso acampamento base. Para o nosso misto de espanto e veneração, o Alcino começou a montar, conectar e afinar uma parafernália constituída por dois telescópios, duas câmaras, uma base mecânica giratória (para acompanhar a rotação da abóbada celeste), um computador portátil e uma UPS. Ao longo de 7 horas e 20 minutos, a geringonça tirou 220 fotos, cada uma com uma exposição de 2 minutos. Posteriormente, o sofisticado algoritmo de um software catita integraria esta vasta galeria de fotos no deslumbrante resultado final que encabeça esta entrada. Deixo de seguida mais duas fotos que representam etapas intermediárias da anterior, sendo a primeira a mais próxima do que se conseguia ver das Plêiades naquela noite a olho nu:


Tudo isto, como é óbvio, é o relato de um leigo que nada percebe de matéria estrelar tão fascinante e complexa. O Alcino teve a amabilidade de me mandar uma fascinante memória descritiva da foto que partilho de seguida e que serve para adensar ainda mais a áurea iniciática do seu passatempo:
Telescópio: Sky Watcher 72ED Evostar
Montagem: Sky Watcher HEQ-5 (Belt mode)
Câmera: ZWO ASI 533MC
Telescópio Guia: Svbony 30mm
Câmera Guia: Omegon Guide 2000C
Redutor TS 0,80
Filtro ZWO IR/UV
220x120" num total de 7h20m
Software: Sharpcap pro; APT; PHD2; DSS; Graxpert; Pixinsight; Photoshop
Local: Entalada, Serra da Peneda
Qualidade céu: Bortle 4
Data: 16 Dez 2023
Fiquei cheio de vontade de o levar um dia para o planalto, onde se está não apenas mais perto das estrelas como há ainda menos iluminação eléctrica, o que, como boas condições atmosféricas e lunares, deve potenciar fotos verdadeiramente espectaculares. Custa é acreditar que podem ser ainda mais do que esta.
(Podem espreitar aqui o fabuloso flickr astrofotográfico do Alcino.)
O nosso obrigado pelo convite e acolhimento! Fim de semana fantástico!
Ora essa! Nós é que agradecemos!